Os Narradores
Os Narradores, estas criaturas tão invulgares e discretas, nunca vão de modas e insistem em prender a nossa atenção sem quererem saber da ocasião porque sabem que convencem sempre uns quantos.
Armam-se em flores esbeltas que atraem abelhas sempre dispostas a transformar o pólen em mel inigualável, o qual serve para encher o depósito das canetas e esvaziar a alma dos contadores de histórias.
No fundo, são os mensageiros mais eficientes de que há conhecimento. São-no, pois não possuem fisicalidade, fluem livremente em forma de letras e vão pincelando 1001 mundos à sua passagem.
E as estrelas que eles contam! Têm um brilho especial. Enquanto descemos a subir na sua direcção, sentimo-lo gradualmente mais forte, como se os astros quisessem que nos demorássemos no conforto irresistível das suas entranhas.
É melhor que apanhar banhos de sol na praia, pois por muito intensa que seja a luz da estrela, saímos de lá mais iluminados e sem um único escaldão.
Pior é quando acaba a cola e as letras resmungam para se juntar. Nós bem tentamos convencê-los a ficar mais um pouco como se fossem carros na reserva, mas não é a mesmíssima coisa. Eles têm de voltar ao estado abstracto para recarregarem.
Desejando terminar bem, quero deixar aqui um apelo... Não, dois! Há muitos narradores por esta existência fora e eles são tão simples, genuínos e incríveis, que a única coisa que pedem é que sejam ouvidos. Bom, ninguém gosta de ser ignorado, não é verdade? É tão verdade como gostarmos que os outros estimem os nossos pertences com o mesmo carinho que lhes damos.
Portanto, por favor, evitem estragar as palavras que eles tanto prezam.