O Cavalheirismo (Imposto) na Actualidade
O cavalheirismo sempre foi um conjunto de convenções sociais que levam os homens a adoptar determinadas atitudes de gentileza para com as mulheres como uma forma de demonstrar educação, afecto e gosto em agradar à pessoa de quem gostam. Assim como as mulheres tinham e ainda têm obrigações sociais, as regras do cavalheirismo eram as dos homens.
No entanto, os tempos mudaram e as superficialidades sociais, felizmente, têm vindo a cair. Os direitos de cada género têm-se aproximado cada vez mais, o que para o gáudio dos progressistas é uma excelente notícia. Como é do conhecimento geral, o movimento que tem providenciado esta evolução de mentalidade é o feminismo, ao qual, hoje em dia, aderem mulheres e homens. Mas o que quer dizer ser feminista? Na minha percepção significa defender a igualdade absoluta entre os dois sexos, continuando deste modo a erradicar formas de pensar antiquadas e, é precisamente acerca deste tópico, que quero escrever.
Já tinha abordado um tema relacionado com o machismo, mas agora é a vez do seu antónimo cujo nome não sei, já que "feminismo" é a definição do movimento progressista.
Eu concordo com a existência do cavalheirismo desde que não seja imposto. Do meu ponto de vista, há uma diferença entre o cavalheirismo e a subjugação. Vamos a um exemplo:
Há uns dias estava a jogar Habbo, um jogo de convívio virtual, e encontrava-me na companhia de uma rapariga. De repente, ela disse-me:
- Tenho sede. - Não me ocorreu nada melhor e mais acertado para lhe responder que:
- Bebe água. - Frustrada, atirou:
- Eu esperava que você fosse pegar para mim, mas já vi que não você não é um cavalheiro. Tchau! - E foi-se embora.
Num jogo virtual é tudo muito teatral sem dúvida, contudo, estou em crer que esta atitude pode ser transposta para a vida real, visto que existem mulheres que pensam assim, que acham que os homens devem certas mordomias ao sexo femininio por uma pura e simples questão de educação da parte deles. Todavia, se se prega que ambos os sexos têm os mesmos direitos e as mesmas obrigações perante a lei, bem como em relação um ao outro, então, alguns hábitos do sexo masculino que agradam às mulheres não deviam deixar de ser praticados enquanto obrigações?
Aquela rapariga quase me disse: "tu deves-me esse favor pelo simples facto de eu ser uma senhora". Se eu tivesse acedido ao que ela queria sem hesitar, na minha mais sincera opinião, não estaria a ser educado, mas sim demasiado submisso. Só estaria a ser simpático se eu tivesse ido buscar água para mim (embora virtual) e lhe tivesse levado um copo também. Se bem que perguntar-lhe se o desejava seria ainda mais adequado.
Uma das normas do cavalheirismo imposto que menos me faz sentido é a que dita que os homens devem pagar a conta das refeições. Não concebo que uma pessoa acredite que alguém é obrigado a oferecer-lhe algo. Porque haverá de ser assim? Quando alguém dá um presente, fá-lo decerto por iniciativa própria e não porque o/a receptor/a lho exigiu.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado no contexto do cavalheirismo. O homem não deve nada à mulher e, ainda para mais, apenas por ser uma mulher, portanto, esperar que ele pague a conta não é um apelo à sua boa educação, mas sim um acto de egoísmo.
O que a meu ver é correcto e, isso sim, é o homem oferecer a refeição somente porque o seu coração lhe diz que quer fazê-lo, porque adora a pessoa com quem está a partilhá-la, porque nada o poria mais contente que arrancar-lhe um sorriso com esse gesto de amabilidade. Pretender parecer bem socialmente só vai aumentar a sua ansiedade no encontro e provocar-lhe um sentimento de culpa, caso não consiga cobrir todo o gasto.
O único motivo para se dar o quer que seja tem de ser o de gostar de agradar. Deve-se pagar uma refeição a uma companheira romântica com a mesma disposição com que se paga a um amigo ou a um familiar. Isto é que é cavalheirismo genuíno e contra tal não tenho nada a argumentar, muito pelo contrário.
Aliás, defendo também que se um homem nunca quiser pagar nada, que se não fizer o mínimo esforço para mostrar alguma simpatia (não necessariamente material) e não mimar a parceira de vez em quando, então, provavelmente, não falhará apenas no que diz respeito ao cavalheirismo, mas também no campo emocional, fazendo a mulher sofrer com certeza.
Eu tenho noção de que o grosso do sexo feminino não pensa desta forma, pois, afortunadamente, as mentalidades estão a evoluir. Hoje em dia já existe de tudo, incluindo pessoas do sexo feminino a pagar as contas por completo ou a meias, o que não está nada mal. Corrijam-me, por favor, se estiver equivocado, contudo, há até mulheres que se sentem ofendidas quando se lhes oferece a sua parte da conta coberta, dado que o interpretam como uma insinuação de que dependem do dinheiro do homem.
Ainda assim, achei relevante escrever acerca deste tema, visto que, como em todos os movimentos, o feminismo tem bons e maus seguidores. Há mesmo extremistas que pretendem a submissão total do sexo masculino. No caso aqui descrito, não se chega tão longe. Não penso de todo que as mulheres que crêem que é responsabilidade do homem pagar a conta sejam, obrigatoriamente, tiranas sem consideração, porém, se há uma mudança de mentalidade a decorrer, há que aceitar tudo o que a mesma envolve.