24.Mai.22
Dez para as Seis da Tarde
Às dez para as seis da tarde
Espero-te no Inverno das raízes frouxas
Esperança mouca e cega
Que não vê o buraco da expectativa
Nem ouve o aviso da vivência.
No escurecer da noite fria, encontro paz
Um reconforto no preto absorvente do céu,
Que ainda está por aparecer
Onde antes o negro era dor
Agora é anestesia
Uma tranquilidade em que os pensamentos dormem
E em que o pranto das emoções se embala.
Quem me dera que a ventania me levasse
O Inverno tem uma maneira única de fazer viajar
E de mostrar o encanto do mundo
Enquanto esperava, viajava sem pensar.
Endireito o chapéu, que frouxo como as minhas raízes,
Também quase voa com o vento
Não tenho tempo concreto
Só o vejo passar como as folhas quebradiças
Que restam do Outono
Umas atrás das outras
Umas iguais às outras
Passam sem deixar rasto.
São cinco para as seis da tarde
Já só resta uma luminescência
Que se desvanecerá de novo com saudade
Já esperei tantas vezes até à meia-noite
Sem recomeçar.
Dobro a esquina
Amanhã às dez para as seis da tarde
Estarei noutra lembrança de Inverno
Sempre sem tempo concreto
Mas na companhia do vento
E com um chapéu muito mais ajeitado.