Às dez para as seis da tarde Espero-te no Inverno das raízes frouxas Esperança mouca e cega Que não vê o buraco da expectativa Nem ouve o aviso da vivência. No escurecer da noite fria, encontro paz Um reconforto no preto absorvente do céu, Que ainda está por aparecer Onde antes o negro era dor Agora é anestesia Uma tranquilidade em que os pensamentos dormem E em que o pranto das emoções se embala. Quem me dera que a ventania me levasse O Inverno tem uma maneira (...)
Guerra é paz
Liberdade é escravidão
Ignorância é força
Estes é o lema do Grande Irmão, o ditador da distopia orwelliana.
De George Orwell em 1984
Eles andam por estes lados outra vez
À superfície, conspirantes, a disseminar
Promessas que tresandam a embriaguez
De sonho, mudança e glória sem par.
Outro grito, outra garantia de amor
Escondem uma abjecção decrépita e velha
Não vês que eles se servem da tua dor?
Não te dás conta do lobo vestido de (...)
Ó, juventude minha
Que me deixas para trás
Maldito tempo em linha
Que nesta existência se faz.
Quero concretizar tudo
E ainda ter tempo para nada
Mas contemplando os sonhos do futuro mudo
Vejo instalar-se uma nova madrugada.
Ainda na flor da idade
Sinto um desgosto de terminar inacabado
Invariável fim que não cede à curiosidade
Abrindo os olhos, amanhã serei um velho desgastado.
Milhares de milhões de livros para ler
Mas sem olhos suficientes para os admirar
S (...)
"Gorda", que adjectivo tão injustamente repelido
Por isso uso-o aqui como elogio
É um dom que jamais deve ser contido
"Gorda" é graciosidade como nunca se viu.
Podem ter alguma celulite e uma pancinha
Podem ter coxas grossas e uma barriga em cúpula
É deslumbrante o ventre que descai de uma rainha,
Tal como a beleza da barriga dupla.
Tudo nelas é abundância
Tudo na abundância é sensualidade
Nada de excessivo há na exuberância
Gera, isso sim, muita atracção e (...)
Acabei de ver um vídeo divertidíssimo sobre crianças a quem se propõe que brinquem com brinquedos do sexo oposto. São três meninos e duas meninas. Arabelle e Sophia ficam curiosas com os brinquedos "masculinos" e, cheias de entusiasmo, não tardam a dar-lhes uma oportunidade. Aparentam divertir-se tanto como se usassem brinquedos "de rapariga". No entanto, quando chega a vez dos rapazes, Kingston, Lyric e Jacob, o caso muda de figura. Não só se recusam a interagir com os brinquedos (...)
Que desgosto fatal
A humanidade foi atropelada
Por um imprevisto tal
Que a deixou para sempre marcada.
Vida estranha esta que por um pé foi barrada
Como um carreiro de formigas em andamento
Corremos atrás de 2020 com um sorriso pequeno
Em busca da fraca luz da madrugada
Coberta agora pelo relampejar do sofrimento.
Com o caminho interrompido
Lá se vão as inúmeras ambições
Já tenho o cérebro entupido
De tanto covid e discussões.
Pede-se à arte que imagine
(...)
Em cada esquina um amigo,
Em cada rosto igualdade,
Grândola Vila Morena,
Terra da fraternidade
AFONSO, Zeca - Grândola Vila Morena
Eis mais um pensamento algo aleatório, mas que me parece pertinente para a atual situação: soube de alguns relatos de pessoas que incriminam o povo chinês da pandemia. Não me refiro ao governo da China, mas às (...)
É curiosa a expresão "estar cheio(a) de fome". Afinal, a fome é uma sensação de vazio, por isso, será mesmo semanticamente correto dizer que se está cheio de vazio? Porque não dizer "há demasiado vazio em mim" - sim, eu sei que soa estranho - mas neste caso também seria uma incoerência. Não pode ser "demasiado", porque esta palavra indica a existência de alguma coisa, mas a fome é a ausência de comida no estômago, logo é nada e não pode haver demasiado nada. Quando muito, (...)
"Ler demasiado" devia ser considerado uma combinação de palavras agramatical.
A maior angústia para um amante de palavras é aperceber-se de que é demasiado impotente e efémero para ler tudo o que alguma vez foi ou será escrito. É nestas alturas que dava jeito já terem descoberto uma maneira de transportarem a consciência humana para um robô, mas por enquanto esse sonho não passa de uma fantasia de alguns livros que tanto adoramos.
- Olha lá, filho? - Chamou a minha avó enquanto eu acabava de beber água para apanhar o autocarro. - Não gostas deste programa? Tu ias gostar. É de cultura geral. - Isto veio a propósito de um anúncio a Mental Samurai, que passa na TVI e eu - com a maior espontaneidade e paz interior - limito-me a dizer de minha justiça.
- Não ligo muito à SIC nem à TVI. - Foi o suficiente para levar logo com isto na fuça:
- Pois, só gostas daquele parvo, não é?
Por “aquele parvo” (...)